terça-feira, 6 de setembro de 2011

O camisa 8


Ainda era um menino, meu pai começava há pouco a me levar para os estádios, mas já me julgava o maior entendedor de futebol da galáxia. Mas para reparar naquele camisa 8, não era preciso enxergar com precisão o esporte bretão. Sua passada era elegante, sua liderança, incontestável, e seus toques inesperados e precisos, principalmente quando utilizava o calcanhar, deixavam sempre os companheiros na cara do gol.

Mas minha inocência infantil não me deixava reparar que aquele camisa 8 era muito mais que isso, e infelizmente, pude apenas perceber quando ele nos deixou para jogar na Fiorentina da Itália. Tanto verdade que até hoje, muitos e muitos anos após parar de jogar futebol, ainda é um ídolo da FIEL, tanto pelo seu futebol requintado, como pela sua inteligência diferenciada. Foi um dos mentores da Democracia Corinthiana, período baseado na consciência e responsabilidade dos jogadores, que nos deu o BI paulista.

Bradou para não sei quantas mil pessoas em um discurso pela implementação das Diretas Já, utilizou tornozeleiras amarelas para reforçar a ideia, entrou em campo para atuar pela seleção brasileira na Copa do Mundo de 1986 com uma faixa na cabeça com mensagem política, e não escondia sua predileção pela cerveja e pelo cigarro. Enfim, é realmente uma figura diferenciada...

Com Sócrates internado, mesmo ele não sendo absolutamente nada meu, todas essas imagens correm à minha memória, e me fazem voltar aos tempos românticos do futebol, em que ele, o Doutor, era um dos protagonistas. Por isso, e por tudo o mais que poderia escrever dele, é que o futebol está triste, ainda mais em tempos que não existem mais figuras como ele. Tenho certeza que todos, mesmo aqueles que não o viram envergar a gloriosa camisa do seu time, assim como eu vi, estão torcendo pela sua recuperação. Não sou médico, vidente, pai de santo, ou qualquer coisa parecida para poder salvá-lo, apenas um torcedor que resolveu escrever para "tentar" homenageá-lo e vê-lo virar outra vez, mais um jogo que parece perdido...